quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Rio 2016: benção ou maldição?

Iaê Pessoal?! Blz?! Amanhã é um grande dia para o Brasil ou não! Vão decidir onde será as Olimpíadas de 2016. Mas não estu totalmente convecido de que seria uma boa para o Brasil (ou melhor para o Rio) essa vitória. Vi no jornal que alguns moradores de Chicago estão fazendo campanha pelo Rio e vários protestos para que a Olimpíada não seja lá, por que será? Bem achei esse texto que resumo bem minha opinião de não está totalmente convecido da beneces. Claro que seria ótimo ir para o Rio, conhecer, durante uma Olímpiada, até porque tenho onde ficar á, já seria uma economia! (ahahah). Mas quanto isso me custaria? E não falo da viagem, falo dos impostos e especialmente da concentração de investimentos que serão feitos no Rio e nos outros estados? Especialmente no NE? Nada de investimentos, muito menos de competições, pois todas seriam testes para os Jogos.

No final desta semana será divulgada ao mundo a cidade vencedora da disputa pelos Jogos Olímpicos de verão de 2016. O Rio está no páreo, com esperanças reais.

Até agora só tenho ouvido análises positivas sobre o por que dos Jogos serem ótimos para o Rio. O que, sem dúvida, é verdade. Se não se levar em conta o fator custo/benefício (algo que nós brasileiros, quase nunca levamos em conta mesmo, principalmente em se tratando de dinheiro público), nem o que os mais de 180 milhões de brasileiros que não moram no Rio possam achar, os Jogos são, certamente, uma benção.

Para os políticos, não é preciso nem pensar. Afinal, que governador, prefeito, presidente, vereador e até síndico não ia querer uma chuva de verbas, atenção mundial, e anos de projetos, licitações, grandes contratos de construções etc? E, o melhor, sem um centavo sair do bolso dos próprios políticos, nem eles tendo que se preocupar com o depois. Sim, eles precisam se preocupar com o discurso sobre o "depois", mas a realidade? Fica para o próximo governante...

Nossos políticos e nossa mídia estão tão interessados nos eventos esportivos e em suas benesses. Aliás, em agosto deste ano ocorreu o Campeonato Mundial de Vela da classe Optimist em Niterói com a participação de mais de 400 velejadores de 49 países, sendo a maioria adolescentes, e, tirando o secretário estadual de Esportes e almirantes da Marinha do Brasil (que apoiava a competição), nenhuma autoridade "de peso" se deu ao trabalho de comparecer, nem órgãos da mídia.

Para os cartolas do esporte, a resposta à pergunta do titulo também é fácil. Eles, como os políticos, só têm a ganhar, sem nenhum pingo de dúvida. Para os empresários brasileiros e cariocas, principalmente donos de construtoras e empresas que prestam serviços ao governo, a resposta também é fácil: benção na cabeça!

Mas - e, como sempre, é no "mas" e no "entretanto" que reside o problema - e para o tais 180 e poucos milhões de brasileiros que não moram no Rio? E para o caixa do governo, que nada mais é do que o dinheiro do povo? Será que o melhor uso dos bilhões (com "B" mesmo) que serão gastos é esse mesmo? A percepção faz com que nós tenhamos a impressão de que as Olimpíadas são algo inesquecível por décadas e que gerarão frutos por igual período de tempo, mas o que leitor lembra dos detalhes de Seul, Atenas, Sydney e Barcelona? Será que o turismo nesses locais aumentou mesmo e foi um aumento que valeu a pena em relação aos custos? Sendo assim, será que os Jogos Olímpicos de verão são, realmente, uma benção ou uma maldição? Vamos ver. O orçamento inicial para as Olimpíadas 2016 das cidades-sedes são os seguintes:

- Chicago: R$ 9,16 bilhões;

- Madri: R$ 11,65 bilhões;

- Tóquio: R$ 12,2 bilhões;

E do Rio? Vamos ver na tabela abaixo, divulgada pelo site UOL Esporte, de acordo com informações fornecidas pelo COB:

Construção da Vila Olímpica - R$ 854.115.000;

Construção da Vila de Imprensa - R$ 1.624.752.000;

Obras de infraestrutura, como ampliação de aeroporto e avenidas, além de outros gastos, como R$ 24 milhões para a decoração da cidade - R$ 7.380.081.000;

Subsídio público para o orçamento do Comitê Organizador - R$ 1.384.073.000;

Total - R$ 11.243.021.000

Sendo que o orçamento total entre gastos públicos, privados, do comitê olímpico e não-comitê é de R$ 28,8 bilhões (esse é o número para comparar com os que estão acima da tabela).

Entre nossas competidoras, Madri e Tóquio não incluíram nenhum subsídio governamental ao projeto (aqueles quase R$ 1,4 bilhão no caso do Rio). E Chicago incluiu só US$ 65 milhões, mais ou menos R$ 117 milhões. Isso é dinheiro público dado ao Comitê Olímpico para ajudar as atividades do comitê organizador dos Jogos.

Até a limpeza da Lagoa Rodrigo de Freitas e da Baía de Guanabara estão incluídas nas previsões de gastos do plano do Rio (que incluem diversas obras do PAC). O que, aliás, seria muito bom e deixaria os japoneses contentes, afinal, quantas dezenas, senão centenas, de milhões o governo japonês já gastou em parcerias para limpar as duas áreas nos últimos quase 20 anos, sem quase nenhum resultado até hoje?

Em Chicago, uma das nossas concorrentes, está acontecendo algo interessante. Um grupo de cidadãos de lá formou um site para apoiar a nossa candidatura. Sim, segundo eles, o Rio devia ser escolhido, pelo simples motivo que eles não querem as Olimpíadas por lá.

Bom, mas as Olimpíadas são uma benção sempre, não? Os investimentos beneficiam a cidade sede, são construídas instalações esportivas que, depois dos Jogos, podem ser utilizadas para vários eventos esportivos, o turismo aumenta, a atenção da sociedade faz com que os orçamentos sejam mais respeitados do que o normal, ou seja, só temos a ganhar! Hmmm... onde será que já ouvi uma história parecida? Ah, sim, mais ou menos nos anos que antecederam o Pan Rio 2007. Aquele que seria um espetáculo de benefícios para o Rio, que transformaria a cidade e que deixaria sua marca para sempre. Se o leitor for ler artigos que têm saído essa semana, como o da capa da "Veja Rio" do último domingo, vai ler sobre um Rio de Janeiro que existe nos sonhos de qualquer carioca, como se os Jogos fossem resolver todos os nossos problemas.

O Rio dos Jogos é algumas vezes melhor que o Rio do Pan e o que não se fala é que, se não tivemos a capacidade de entregar quase nenhuma das promessas do Pan, o que faz com que nossas promessas dessa vez tenham mais credibilidade? Nós cariocas somos assim, sempre sonhando, porém nem sempre muito ligados à realidade.

Pois bem, antes de responder à pergunta titulo desse artigo, então, vamos lembrar um pouco do Pan e do que aconteceu depois dele. Segundo um relatório do Tribunal de Contas da União divulgado em setembro de 2008, os gastos reais com o Pan não foram muito superiores ao orçado, apenas 500% no geral. Não, amigo leitor, não é um erro, 500% a mais do que o orçado inicialmente. O custo total ficou em R$ 3,78 bilhões. Só o governo federal gastou 1.589% a mais do que o orçado para ele. Ao invés de gastar os R$ 95 milhões previstos, a União gastou R$ 1,8 bilhão do seu dinheiro. Praticamente um erro de arredondamento...

Entre as análises realizadas, o TCU fez uma de amostragem de alguns gastos na Vila do Pan, por exemplo. De 22 itens analisados, o TCU concluiu que 17 foram superfaturados. Tinha de tudo, de ar condicionado até cortinas custando mais do que deviam (a íntegra da decisão do Tribunal pode ser lida aqui .

E quantas grandes competições esportivas o leitor viu acontecerem nas instalações do Pan? O estádio de futebol João Havelange (o Engenhão), por exemplo, que foi construído bem próximo ao Maracanã, terminou sendo arrendado para o Botafogo, depois que meio mundo o recusou, pela quantia de R$ 36 mil por mês. Bom aluguel, não? Depende... quando o custo de construção foi R$ 380 milhões, não fica parecendo um negocio tão bom: 0,009% do custo da obra por mês. Nesse ritmo, em apenas 880 anos o governo pode ter de volta o que gastou, isso sem contar o valor desse dinheiro investido no tempo de lá pra cá. É um verdadeiro negócio da China! Nada mal para uma obra orçada, inicialmente, em R$ 60 milhões.

Segundo a revista "Exame", até a passarela que liga o estádio à estação de trem do outro lado da rua (não incluída nesse custo acima) teve que ser construída às pressas e com um custo muito superior ao estimado, simplesmente porque ela não constava do projeto original. Um erro aceitável, quando se considera que a estação está lá desde o século 19, não?

Também segundo a revista "Exame", o sistema de cadastro e segurança do Pan, por exemplo, terminou custando 163 vezes o valor inicialmente orçado e teve que ser refeito às pressas logo antes da competição, depois que a Agência Brasileira de Inteligência reprovou as medidas. Notem bem, 163 vezes o custo originalmente orçado.

Mas melhor do que esses dados sobre o Pan é a análise do presidente do Tribunal de Contas do Município do Rio, realizada em setembro de 2007 e que pode ser lida na íntegra aqui , sobre a organização dos Jogos e seu efeito para as autoridades públicas. É tão engraçado e tão desconectado da realidade que não estragarei a surpresa dos que quiserem ler.

Foram construídos para os Jogos um conjunto de prédios para funcionar como a Vila dos Atletas e que, depois, seriam entregues para seus compradores privados. Dos 17 prédios construídos, quase todos encontram-se quase vazios, enrolados em problemas jurídicos e apodrecendo ao ar livre até hoje. Quanto ao uso das instalações esportivas, replico aqui três dos resultados de um levantamento realizado por Mauricio Garcia em seu blog :

"Arena Multiuso - Uma arena moderníssima, situada no complexo do Autódromo de Jacarepaguá. Quando a Prefeitura percebeu que tratava-se de um elefante branco com manutenção cara, tratou logo de repassa-la à iniciativa privada. Hoje é a HSBC Arena, utilizada exclusivamente para shows, logo, privada. Nada de esporte;

Parque Aquático Maria Lenk/Velódromo - São as outras construções que faziam parte do complexo do Autódromo. Estão bem conservados, mas esporte que é bom, nada. O Maria Lenk foi protagonista de uma das maiores pixotadas administrativo-esportivas brasileiras. Sob alegação que o orçamento do Pan deveria atingir um padrão de Jogos Olímpicos, e não Pan-americanos, o COB conseguiu alterá-lo. Após a construção, foi constatado (pasmem), que o Maria Lenk não tem capacidade para abrigar uma arena de esportes aquáticos para uma Olimpíada. E o arquiteto responsável pelo projeto não imagina como expandir o local. Para se livrar do problema, a Prefeitura repassou a administração ao COB, que logo nomeou o ex-nadador Ricardo Prado para administração. Vendo a fria que se meteu, Ricardo largou o projeto em tempo recorde;

Marina da Glória - Mais um exemplo de uma tremenda trapalhada. Seria a única obra privada do Pan, e o planejamento era construir um local para esportes como remo e iatismo, um complexo suntuoso, cujo projeto incluía uma construção de praticamente 5 andares. Após o começo das obras, atentaram para o seguinte detalhe: aquele é um local tombado, patrimônio público, e tal construção simplesmente não poderia ser feita nos moldes iniciais. Ao invés de reavaliar o projeto, as obras simplesmente pararam. Hoje, várias estacas de concreto e alicerces povoam e poluem o lugar".

E o "melhor" de tudo no Pan? Como sempre, peço ao leitor para tentar adivinhar quantas pessoas foram julgadas ou presas por qualquer tipo de irregularidade que possa ter ocorrido? Sim, Z-E-R-O. De onde se entende, então, que não houve nenhuma irregularidade?

Vale lembrar que as quatro edições anteriores de jogos Pan-americanos haviam custado uma média de R$ 260 milhões cada. Ou seja, 14,5 vezes menos do que o custo do mesmo evento no Rio de Janeiro. Pelo menos dessa vez nosso orçamento inicial é só um pouco mais do dobro dos outros concorrentes.

Além disso tudo, é preciso lembrar, ao se levar em conta o aumento esperado do turismo, que em 2014 o Brasil já estará na mídia, por mais tempo do que os 16 dias de uma Olimpíada, e com mais cidades do que o Rio, pois sediaremos a Copa do Mundo de Futebol. Em 2013 teremos a Copa das Confederações e, em 2011, os Jogos Mundiais Militares.

Também vale lembrar que os R$ 28 bilhões orçados como gastos totais (se terminar sendo só isso mesmo), equivalem a quase 5,5 anos de gastos anuais de turistas estrangeiros no Brasil todo. Ou seja, quanto a mais de turistas e gastos seriam necessários para justificar esse dispêndio e quanto do aumento no turismo já não será afetado pela Copa do Mundo e os outros eventos?

Entre os argumentos que já ouvi sobre o por que as Olimpíadas são uma benção para nós tem de tudo, desde o "dessa vez o controle será maior", passando por "eu quero ver Olimpíadas e dane-se o gasto, o dinheiro é do governo mesmo", chegando até o "no Brasil já se rouba tanto mesmo, melhor que roubem, mas que a gente possa ir a uma Olimpíada aqui".

Já os que acham uma maldição quase sempre recaem no "chega de jogar dinheiro pela janela", "tem mais o que fazer com esse dinheiro" indo até o "com a condição dos hospitais, da segurança pública e da educação no Rio, vamos gastar essa fortuna fazendo Olimpíadas?".

E das pessoas que são "contra as pessoas que são contra", já ouvi que quem é contra "não são patriotas", "não gostam do Rio", "são contra o Brasil". (senti falta de um "Brasil, ame-o ou deixe-o"...). Como se ser contra os Jogos, por qualquer motivo que seja, fosse um ato contrário aos interesses nacionais e uma traição ao Brasil e ao Rio de Janeiro.

O resumo é que o assunto desperta grandes paixões e, sendo assim, deixo aqui a pergunta para que vocês opinem: Rio 2016, uma benção ou uma maldição?

PS: Se o Rio for escolhido, rogo aos amigos que guardem esse artigo para lerem lá em 2017/2018. Vamos ver o resultado...

Por Fred Junqueira - http://tinyurl.com/ydu884x

Até a próxima. Abraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaço. com PERNAMBUCANIDADE

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